sábado, 19 de junho de 2010

O Inferno, Segundo o Envagelho de Bruno

Assim que você morre ainda não percebe para onde foi. Você se encontra no meio de uma balada, uma festa, você já está meio bêbado e sua cabeça dói um pouco de tanta cerveja e cigarros. Há uma garrafa vazia na sua mão, então você compra uma bebida. Por todos os lados garotos e garotas bem vestidos dançam ridiculamente, sentindo-se superiores uns aos outros e exibindo seus corpos em poses ensaiadas no espelho, mostrando seus melhores traços e perfis. Como se sentem melhores que você, nenhuma garota sequer olha na sua cara. Você compra outra cerveja. A música repete uma batida eletrônica chata a qual ninguém consegue dançar no ritmo. De vez em quando um cara para pra falar com você, te fazendo pensar que fez um amigo, mas o cara não para mais de falar e conta estórias como do dia que tirou um olho de peixe do pé. Outra cerveja, a dor de cabeça aumenta e você continua só meio bêbado. As pessoas dançam, a música toca e você não sabe se está no limbo ou se ficou louco. Mas isso dura a eternidade e, infelizmente, o dinheiro acaba.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Em Casa (ou De Volta para o Futuro)

Novamente desempregado, de volta à casa dos meus pais no interior. A casa onde cresci. Não é a primeira vez que volto, mas é a primeira vez que escolho voltar. Parece fazer tanto tempo desde que me senti em casa nesse lugar. Houve o tempo em que não me sentia em casa em lugar algum. A cidade grande parecia que nunca fora meu lugar e a cidadezinha da minha infância parecia diferente demais das minhas memórias.
A estória é a seguinte, uns anos atrás a cidadezinha pareceu ficar pequena demais para minhas ambições e minha imaginação, ninguém compartilhava dos meus interesses (além dos três caras que, comigo, formavam uma banda de rock). Mudei então para a capital. A cidade grande tinha tudo que eu podia querer e ainda mais: os bares, a arte, a música e as pessoas que poderiam me entender.
Depois de cinco ou seis anos, consegui juntar mais uns quatro amigos. A verdade é que EU não entendo as pessoas. Em São Paulo as pessoas se levam a sério demais, nunca consegui entender isso, não vejo mais tribos, vejo tipos. Todos fazem tipo. Senti falta das risadas sinceras do interior. Falta das pessoas que não sabem conversar sobre música e arte, mas sabem falar besteira e beber cerveja como poucos.
Noutro dia andei pelas calçadas e passei pela banca de jornal onde fiz alguns trocados na minha infância, a escola onde estudei e a praça onde aprendi sobre garotas. As meninas daquele tempo viraram mulheres, algumas com filhos, e se escondem em algum lugar. As que passam por alí agora, provavelmente são ilegais para mim. Nas ruas cheias de lojas que nunca vi encontro poucos conhecidos. Novamente não me sinto em casa, mas parece um lugar legal para explorar.